A linha tênue das relações
- Mari Alves
- 4 de nov. de 2016
- 3 min de leitura
Se analisarmos bem, vivemos numa espécie de corda bamba. O tempo inteiro precisamos nos equilibrar entre o que queremos e o que devemos, o que podemos e o que não podemos, o que falar e o que calar, e assim por diante. Quando entramos num relacionamento é como se essa corda se estendesse, é uma eterna tentativa de equilíbrio entre as nossas vontades e as vontades do outro, a nossa rotina e a rotina do outro, as nossas expectativas e as expectativas do outro. Fica tudo mais complicado e, talvez por isso, tenha muito mais gente sozinha por aí nos dias de hoje.
As historias que a gente escuta quando criança terminam no felizes para sempre porque é muito mais fácil finalizar ali, imagina se fossem narrar o dia a dia da branca de neve tentando conciliar o príncipe e os sete anões ? Afinal, ela casou com o príncipe mas não morreu pro restante do mundo, a amizade com todos aqueles anõezinhos que a ajudaram no momento que ela mais precisou permaneceu, ou não? Já pensou se fossem prolongar a historia da Pequena Sereia? Ariel deve ter passado a vida dividida entre a terra e o mar, deve ter sido difícil conviver com as escolhas, imagina quantas vezes ela não repensou se fez o certo? E a saudade dos pais e amigos? Ela conseguia visita-los ou nunca mais os viu? Haja terapia pra uma criança que descobre tão cedo essa quantidade de duvidas e problemas. Então, viveram felizes para sempre e fim, portanto, ninguém conta pra gente que o felizes para sempre pode não ser tão feliz assim e principalmente tão simples como nos contos de fada.
Relacionamento é cuidado diário, dá trabalho de verdade viver em harmonia, existem concessões que devem ser feitas, renuncias em prol de um bem maior, mudanças na rotina, na vida. Você de uma certa forma se adéqua ao outro. Claro que isso deve acontecer em ambos os lados, pra funcionar tem que ser reciproco, caso não seja vira anulação e está fadado ao fracasso, e é aí que entra a questão. Até que ponto é amor-próprio e até que ponto vira egoísmo? Quando deixa de ser cuidado e passa a ser controle? A linha entre ceder e se anular é muito tênue.

Vai haver situações em que será mais complicado abdicar de uma vontade pelo outro que em outras, mas o principal, ao meu ver, é até aonde isso não te machuca. Se a vontade que prevalece é sempre a do outro, uma hora isso vai ficar pesado demais e é ai que entra a reciprocidade que eu falei anteriormente, a via tem que ser de mão dupla. Mas, mesmo quando as escolhas são equilibradas a gente deve ficar atento, o que a gente tem que se preocupar é se a gente não está abrindo mão de coisas que fazem parte de quem a gente é. Tem muita coisa que a gente faz que é como se fosse o combustível da nossa vida, sem essas coisas a gente começa a perder as forças, o encanto, o brilho no olhar. Tem que se conhecer muito bem pra saber distinguir o que é importante e necessário do que é supérfluo, e são essas coisas que a gente não pode nunca, jamais, em hipótese alguma, abrir mão por ninguém. Amor-próprio não é egoísmo, se amar em primeiro lugar não é desconsiderar o outro ou só pensar em você, mas sim, se colocar no primeiro lugar da sua lista. Entre atender as suas necessidades e as necessidades do outro, você atende primeiro as suas. O que eu vejo em muitos relacionamentos são pessoas se anulando pra viver a vida do outro. Se deixando pra depois, fazendo planos em cima da rotina do outros, se encaixando o tempo todo e na maioria das vezes o outro não se dá ao mesmo trabalho, talvez até não por mal, apenas por não precisar. Portanto, é preciso analisar e refletir sobre o caminho que a sua relação tem seguido. As vezes o controle chega disfarçado de cuidado, ou então o outro te anula sem que você perceba, tem muita submissão que é chamada de amor. Fique atento.
Abaixo segue o vídeo mais maravilhoso dos últimos tempos, que eu não canso de ver e amar. Vale a pena conferir e identificar se você não está num relacionamento abusivo, por menor que seja o abuso, e repensar :)
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